sábado, 31 de dezembro de 2011

Sefiróticas


Antigamente eu lia nos livros de ocultismo do meu tio Jaime sobre o esoterismo judaico. Cabala, era o nome. Nome bonito, atraente, gostoso de falar, principalmente se falado corretamente, algo como “kabalárrr”. As dezenas de Árvores da Vida ilustradas num dos livros eram fascinantes. Eu não entendia patavinas do que aquilo tudo queria simbolizar, mas as Árvores da Vida, com suas sefiroths esféricas de múltiplas cores recheadas com símbolos que eu preferia continuar sem saber o que queriam dizer, não por medo, que eu nunca tive medo do sobrenatural, mas para que o seu mistério permanecesse intacto. Engano meu. Meu tio me explicou algumas coisas sobre aquilo, e o mistério só aumentou, ficou do tamanho do próprio universo, e aquilo tudo ficou ainda mais fascinante. As coisas do sobrenatural são assim. Assim é a metafísica. As palavras a ela dedicadas só acrescentam brumas ao assunto tratado, de forma que o orador metafísico como que traga dúvidas pedregosas e sopra vapores luxuriantes. Não tenho mais nenhum daqueles livros, o que é uma pena, nem tenho fotografias do meu tio. Não sei se ele aprovaria o que estou fazendo agora. Ele, um ocultista, para quem o conceito de Luz Astral de Eliphas Levi era dogma indevassável. Tio Jaime não era muito amigo dos chips e circuitos. Mas aqui estou eu, prestes a ser a cobaia número um de minha própria invenção. Descobri brechas no tempo, tio Jaime, bocarras enormes abertas no espaço durante curtos períodos. Eu os mapeei, e engendrei um jeito de me esgueirar por elas, e retornar em segurança. Estou no quintal da minha casa na praia do Flamengo, queria estar com você aqui Tio Jaime, você daria um jeito de mesclar minhas teorias com as suas, desracionalizá-las, num processo inverso ao aplicado pelo cientista, embora a dúvida seja elemento de intercessão. Está tudo pronto. Estou com um grupo de amigos, e eles vêm vindo em minha direção, estamos de partida. Não sei por que apliquei tanto tempo e dinheiro nisso, Tio Jaime, talvez tenha sido tocado por Prometeu/Lúcifer, doadores da Luz, ou tua Sofia Gnóstica, aquela que salvou o gênero humano das garras do Demiurgo Cego e seus sinistros sequazes possuindo a serpente. Há um Uroboros circundando a plataforma circular. Fiz uma homenagem a você, tio Jaime. De início quis nomear a invenção com algo que se relacionasse contigo, mas achei pouco, e só hoje me dei conta de que não descobri só essa traquitana tecnológica que em nada se parece com meu tio Mago. Só hoje me dei conta de que também as brechas são descoberta minha. Elas sim, tio, são a sua cara. Misteriosas, vertiginosas..., em sua homenagem, tio Jaime, batizei essas brechas espaço-temporais de Portas Sefiróticas.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Eli, Eli, Lama Sebachtâni!*





- Você nunca tira essa boina?

Numa sala de sobrado abandonado. Com luz débil. Claude entrevistava o andróide, cada um numa extremidade da mesa carcomida.
- Sim, cinco vezes na semana, exceto aos domingos. Isto faz parte de um intrincado sistema metafísico-filosófico-esotérico-culinário.
- Culinário?
- Sim, é a trans-cozinha, uma forma de sHe alimentar somente de alimentos provenientes do Tibet.
- Você compra alimentos no Tibet?!
- Eu, não. O Grão-Comprador da OBOMMA (Ordem Boinista Oculta e Muito, Muito Antiga.)
- E ele só traz alimentos?
- Não. Traz também um sumo secreto que nos eleva a um estado místico-noético.
- Sei, e Noético vem de Noé...
- Não! Vem de Nous.
- E o que é o Nous?
- É o além do além onde não há aqui nem além.
- Vocês são tri-loucos!
- Quadri.
- Como?
- Na OBOMMA o Ser é visto como entidade quaternária.
- Quem fundou esta Ordem?
- O Neruda. E o Borges afundou. Pirandello e Gogol irão desafundá-la. Só assim o Ciclo se fechará.
- Pirandello e Gogol...
- Sim, morreram. Mas uma seita milenar fundada por um pithecantropus erectus vem protegendo os seus descendentes através dos tempos.
- A função deles é essa?
- A missão.
- Então, porque a tal seita foi fundada tão antes de Gogol e Pirandello?
- Nós não cremos no tempo.
- Explique melhor.
- Daqui não passarás.
- Como?
- Daqui não passarás. Daqui não passarás. Daqui não...ZIIIIIIIIIIIIUUUUUuuuuuuuummmmmmmmmm...

O APEM (Andróide Para Entrevistas com a Mídia) desligou-se completamente. Cabeça pendente, queixo tocando o peito.
Claude, o entrevistador, sentiu uma imensa vontade de tirar-lhe a boina cinza ajustada perfeitamente à cabeça.

Tirou.

No topo da cabeça do andróide, Claude leu, numa tela LCD (Liquid Cristal Display), o que não soube ser pilhéria, melodrama, non-sense ou mistério profundo:


PAI, POR QUE ME ABANDONASTE?
BIP BIP BIP!...A mensagem foi substituída por uma contagem regressiva em números vermelhos que começou do 10.
Claude, subitamente ciente do que se tratava, catou sua bolsa, a boina cinza, seu bloquinho, e saiu do sobrado abandonado em disparada.
A explosão se deu no exato instante em que Claude escondia-se atrás de um container de lixo, de onde fugiram centenas de ratos alucinados.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Rock/Metal e Literatura: Samael. Rite of Cthulhu.

Todas as segundas postarei musicas de Rock e Metal que possuem relação com a literatura. Sobretudo a literatura pertinente a este blog. Aproveitem!

Aqui temos um belo espécime. Bela composição do grupo suiço "Samael", inspirada nos Mitos de Cthulhu, do mestre Lovecraft. Abaixo segue uma biografia da banda, que pode ser encontrada no site "Whiplash".


Por Alexandro Antonio Blini Maceiras

Inovar sempre e não se entregar à mesmice. Quebrar regras sem medo dos conservadores. É assim, com atitudes altamente heavy metal, que o grupo suiço Samael vem traçando sua carreira desde o início dos anos 90. Os irmãos Xytras e Vorphalak começaram tocando um som pesado e agressivo, influenciado pelos primeiros ícones do black metal, Venom e o também suiço Celtic Frost. Era preciso contestar a mediocridade do mercado musical da época.Nos primeiros ensaios, em que Xytras assumiu o baixo, seu irmão a guitarra e o vocal, e Masmisein a bateria, foram compostas as faixas que estariam no primeiro trabalho. Financiado pela própria banda, o EP "Medieval Prophecy" mostrou que o Samael queria ser crú e agressivo, procurando diferenciar-se, inclusive, de bandas semelhantes.

A atitude e a garra demonstradas no EP abriram os olhos de uma pequena gravadora francesa, a Osmose Records. Sem melhores oportunidades naquele momento, o Samael assinou com o selo e pôde pensar em vôos bem mais altos. "Worship Him", o primeiro disco oficial, foi gravado em 1991, mas com pouca produção. Não tinha o nível mínimo que os músicos desejavam, porém impressionou a imprensa e o público underground. Já no próximo disco, Xytras passou a ser a mente por trás das composições. Para não se ater aos limites do black metal, o grupo incluiu um tecladista na formação. Rodolphe H. ganhou a responsabilidade de criar climas sombrios e densos. Com ele, a banda gravou "Blood Ritual", que já era mais lento e ainda mais pesado. Cada vez mais forte no underground, o Samael surpreendeu à todos em 1994, já contratado da Century Media Records, com o álbum "Ceremony Of The Opposites". Um disco que rompeu de vez as amarras com o establishment da música extrema, misturando com maestria as guitarras do black metal com arranjos melodiosos dos teclados. Faixas batizadas pela própria banda como "operetas macabras".
O disco chocou os fãs mas ainda era pouco. O que estava por vir alteraria radicalmente os conceitos sobre o Samael nos dois próximos anos. Da brutalidade total à inovação sonora, Xytras - que passou a se chamar apenas Xy - fez de "Passage" o início de uma nova era, a entrada para a arriscada fase do radicalismo total. O público, a partir de então, ou amaria ou odiaria o Samael.
Longe de boa parte dos estigmas das raízes extremas, o Samael teve em "Passage" um dos trabalhos mais criativos da década ao unir a brutalidade do black metal com sintetizadores.

Alguns fãs abandonaram a banda, mas muitos outros surgiram atraídos pela novidade. Finalmente o Samael expandiu suas fronteiras, desembarcando nos Estados Unidos para uma tour. Com o mini-CD "Exodus" o experimentalismo tomou conta do Samael. Peso, remixes e vocais sombrios se condensam criando uma verdadeira sinfonia do inusitado. Após este trabalho, Xy dedicou-se à parte técnica, tendo produzido dois discos do Rotting Christ. As "férias" só terminaram em 1999, quando Xy entrou com toda a força em uma nova mudança. Agora com mais um guitarrista, Kaos, o Samael centrou sua criatividade em passagens atmosféricas, mais sons eletrônicos e peso. Tudo isso gerou "Eternal", um ambicioso passo na história do grupo, que ousou derrubar outra barreira ao trabalhar com um produtor que jamais teve qualquer tipo de ligação com a música pesada. David Richards somou à indecifrável mente de Xy sua experiência com grupos como Queen e Rolling Stones. O local escolhido para as gravações foi o Mountain Studios, o mesmo em que Frank Zappa e Deep Purple já haviam trabalhado.






Fonte: Samael - Biografias http://whiplash.net/materias/biografias/038865-samael.html#ixzz1hf6x9A5l

domingo, 25 de dezembro de 2011

UM ENIGMA ZEN PARA O BRAÇO ARMADO DA DEMOCRACIA






A delegacia estava árida. Apenas ouvia-se o matraquear dos dedos enormes e pesados do delegado Silveira contra o teclado do computador.


Passos na sala de entrada.


-Pois não, senhora.


A recém-chegada, estatura média, cabelos lisos e bastos, olhos castanhos, pele branca, óculos ovalados, ficou em silêncio, parada, em frente ao balcão.


-Pois não, senhora.


Novamente silêncio. A essa altura, o delegado Silveira já observava por trás do colega plantonista. Eram duas da madrugada, e Silveira viera pegar um expresso na máquina recém-comprada.


-Algum problema, Mendonça?


-A moça aqui. Chegou na surdina, e ficou aí, parada. Será que é droga?


Silveira avançou, foi para perto da mulher, conduziu-a até uma cadeira, sentou-a, espantando-se com a sua docilidade.


-Senhora, tá conseguindo me entender?


A mulher dirigiu o olhar diretamente para Silveira. Demorou-se assim por um longo minuto, quando finalmente decidiu falar:


-Eu quero fazer uma denúncia.


-Sim. Então me acompanhe, por favor.


A mulher olhou para a parede oposta, e seu olhar parecia vara o concreto.


-Eu quero fazer uma denúncia.


Silveira olhou para o colega, já visivelmente impaciente.


-Como é o seu nome, mora aqui no bairro mesmo?


A mulher levantou-se, animada pela fúria de mil Jeovás dos Exércitos, e vociferou, olhando alternadamente para um e para outro dos homens fardados à sua frente.


-Eu estou aqui, querendo lhes falar uma coisa séria, e vocês me vêem com tolas distrações!


Silveira, passado o choque, levantou-se, crendo que se tratava de uma louca, uma viciada, ou das duas coisas.


-Ei, calma, calma moça, olha a bagunça aqui na delegacia, e cuidado com o desacato!


Os mil Jeovás Sabaoths esvaíram-se da possessa, e ela voltou ao seu ponto zero.


Se dirigiu a Mendonça, tirou cuidadosamente os óculos e ofereceu-o na palma aberta da mão direita. Mendonça, muito interessado em ver até onde iria aquilo, resolveu participar da peça, tomando para si os óculos, num cerimonialismo galhofeiro. A mulher recuou, fitou os dois, empertigou-se, e disse em tom ríspido e decidido:


-Eu vim fazer uma denúncia.


Os dois plantonistas ficaram ali, atônitos, vendo a estranha figura dar meia-volta e caminhar para a saída até desaparecer no silêncio da madrugada.











quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Declaração de compromisso com a defesa da Literatura Fantástica, de Horror e Ficção Científica.





A literatura fantástica, embora seja fantástica no sentido de trazer em sua temática "mundos alternativos" e "realidades invisíveis", não merece o tratamento dado por alguns idólatras da "literatura séria"(ou com complexo de seriedade?). A "sensação do outro mundo" que anima as obras e os autores de ficção científica, terror, absurdo, realismo mágico/fantástico e semelhantes, trazem sempre uma inquietação com o status-quo, seja especulando mundos utópicos, ou antevendo distopias cataclísmicas. No quesito valoração, creio que os supracitados gêneros devam passar pela nossa apreciação, sendo julgados pelos mesmos critérios que adotamos ao apreciarmos obras de Dostoievskis, Hemmingways, Goethes ou Dantes.

Nos últimos anos eu tenho lido muitas obras de ficção científica, horror e realismo fant´satico/mágico, e tenho ficado pasmo ao constatar em algumas dessas obras muito mais humanismo, reflexão filosófica e crítica social do que em muitas obras ditas "realistas", ou "humanistas", além de muito mais acuro estilístico e poético do que muitas pérolas canônicas.
Certamente nem todo autor de ficção científica, por exemplo, é um Asimov, ou um Arthur Clarke, mas também é certo que nem todo autor realista possui a envergadura de um Dostoievski, ou um Graciliano Ramos.

Tenho trabalhado no sentido de pesquisar os gêneros citados nas primeiras linhas, e ler uma boa quantidade de autores, no intuito de expô-los, num serviço que é mais de curador que de crítico. Não ambiciono criar receituários ou guias à la Harold Bloom, nem me tornar um "criticastro", mas apenas contribuir com as leituras dos meus amigos, conhecidos, com quem converso sobre livros além de ser uma prova viva de que os leitores e estudantes não precisam se sentir acuados pela parte careta da inteligenzia acadêmica, e que ler horror, ficção científica e semelhantes não é perda de tempo, desperdício de neurônios, entretenimento puro e simples ou atestado de burrice.

Sensacionismo Sci-Fi


às vezes me sinto como um robô a óleo diesel
que sorveu cinco litros de gasolina,
(lunático
extático
neurótico)

combalido no embate,
debatendo-se embebido em sangue de filme B
deixando minha última assinatura numa mancha
que cresce no paredão
enquanto caio aos poucos
atritando-me ao concreto
olhando fixo para os executores
que já fumam e conversam.

a fumaça do escapamento está ficando mais e mais suja,
e eu mastigo meus próprios parafusos soltos
enquanto contemplo o lento expandir-se da ferrugem(

uma parede de recifes afiados
que queimam a carnec
omo a beleza de uma rosa viva,
ou
uma nascente de lama
numa planície de
pedra.)

A Fresta






A Coisa estava ali, no meio da rua. Ninguém sabia ao certo o que era, nem de onde tinha vindo. Nenhum dos observadores sabia dizer com exatidão como tinha aparecido.Era grande, e em tudo assemelhava-se a um tumor. Estava úmido, exalava odores pungentes e indescritíveis. E pulsava, latejando em pontos variados.Quando a polícia chegou, todos se afastaram, com os olhos vidrados na Coisa, tão vidrados que nem perceberam que aqueles homens não trajavam uniformes de nenhuma força militar brasileira. Cinco homens cobriram a coisa com uma espécie de lona que ajustou-se à coisa imediatamente após entrar em contato com a sua superfície úmida.A Coisa não pulsou mais, pareceu petrificar-se, e os cinco homens rolaram-na para dentro de um caminhão-baú preto. A epiderme do asfalto ainda testemunhava que ali havia estado algo enorme, esférico e úmido, e tal testemunho era dado através de um disco de fluido que refletia distorcidamente as luzes da noite citadina.No outro dia o âncora do telejornal noticiou que um jogo militar havia sido realizado na Ladeira da Fonte, ao lado do Teatro Castro Alves, um jogo que envolvia reações a armas biológicas. Em tal jogo, segundo o âncora, havia sido usada uma réplica de bomba bio-mecânica-bacteriológica engendrada por um grande estúdio de efeitos cinematográficos.Com o tempo, a história foi digerida pela população. Com exceção dos transeuntes mais desconfiados, que se lembravam muito bem de não ter visto movimentação militar alguma antes daquela coisa simplesmente aparecer no meio da ladeira.2.Dona Brígida, moradora de rua, sentada num banco do largo do Campo Grande, lembrava, catatônica, do que aparentemente só ela vira: Um ser indescritível e titânico esgueirando-se através do céu noturno, abrindo-lhe uma fresta como se esse fosse uma cortina de veludo, colocando cuidadosamente aquela massa pulsante no meio da Ladeira da Fonte. Era como se a cidade de Salvador fosse uma casinha de boneca que dona Brígida tivera quando criança. Mas não foram só casinhas de boneca que estiveram presentes na distante infância da simpática habitante das ruas do Centro. As visões também, e numa tal freqüência que a deixaram transtornada, alcoólatra, execrada da família e da sociedade dita normal.Mas nenhuma visão se equiparava àquela.Daquela noite em diante, dona Brígida não saiu mais do Campo Grande.Jônatas, um garotinho de onze anos que fazia malabares no farol do Largo dos Aflitos, lhe trazia refeições frugais uma vez por dia (achava-a parecida mãe morta por um soldado da polícia).A velha não falava mais, só olhava o dia inteiro para o céu e rascunhava uns papéis puídos. Jônatas achava os rabiscos parecidos com os que via nas revistas em quadrinhos que folheava de vez em quando na banca de revista do Shopping Piedade, e como andava cansado de ser escurraçado pelo jornaleiro, dera para entreter-se com os rabiscos de Dona Brígida. Imaginava-se cavalgando aqueles seres enormes que voavam livres entre as estrelas e espiavam furtivos fendas abertas nas cascas dos planetas.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Sol Cego








Meiodia o sol é vidro,
e os arbustos que ainda restam
000000000000000na cidade
se retesam &
tecem réquiens,
000000000000000tocando passarinhos
000000000000000partidos em pautas
000000000000000bicos de aço.

nos varais,
metralhadoras secam lentamente,
empapadas em sangue,
gotejando
pin
gen
tes
de rubi
000000000000000[enfeites da morte].

Não deixe que as crianças saiam hoje.
É perigos som esse sol olho cego,
e os seus gritinhos histéricos
irritam as metralhadoras no varal
(mural da morte)
que embora habituadas à guerra,
gostam de secar-se em paz

&

só toleram réquiens
de passarinhos partidos
em pautas gretadas
em arbustos de aço
que clamam clemência
ao olho de vidro
do soldomeiodia.